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JUN
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11 JUN 2025
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MT Saúde alerta: Demência em idosos internados passa despercebida em 50% dos casos, revela pesquisa
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Especialista de Cuiabá explica por que o problema é ignorado nos hospitais e quais são os impactos para pacientes e famílias.
Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) traz um dado alarmante: até 50% dos casos de demência em idosos hospitalizados não são identificados pelas equipes de saúde. O estudo, publicado no Journal of the American Geriatrics Society, aponta que a atenção médica costuma se concentrar na condição aguda — como infecções ou descompensações clínicas — que levou o paciente ao hospital, deixando de lado sintomas cognitivos que podem indicar um quadro mais grave.

A pesquisa também revelou que cerca de dois terços dos idosos com 65 anos ou mais internados apresentam algum grau de comprometimento cognitivo, e um terço já tem diagnóstico de demência. Esses pacientes têm maior risco de delírio, reações adversas a medicamentos, internações prolongadas e menor resposta à reabilitação. O cenário reforça a urgência de abordagens mais abrangentes e treinamentos específicos para as equipes hospitalares.

Em Cuiabá, a neurologista Rafaella Resplande, que atende no Hospital São Judas Tadeu, confirma que essa realidade é vivida na prática clínica diária. Para ela, diversos fatores contribuem para que tantos casos passem despercebidos nos hospitais.

“Quando a gente fala de demência em ambiente hospitalar, temos que entender que há vários fatores que podem contribuir para isso. A primeira coisa é que muitos sintomas cognitivos são atribuídos ao envelhecimento normal, então isso acaba gerando um subdiagnóstico. Além disso, muitos profissionais de saúde em ambiente hospitalar estão mais focados em tratar condições agudas e não priorizam essa avaliação cognitiva. Um outro ponto importante é a falta de treinamento específico da equipe hospitalar para reconhecer os sinais precoces de comprometimento cognitivo”, explica a médica.

Ela também ressalta que, muitas vezes, os sintomas da demência se confundem com o delírio hospitalar, o que dificulta o diagnóstico. E a falta de contato prévio com o paciente — que impediria a comparação com o comportamento habitual — também atrapalha. Segundo Rafaella, a não detecção da demência agrava a evolução clínica do idoso durante a internação.

“Um paciente que tem demência apresenta vários impactos negativos quando está diante de uma condição aguda que precisa ser tratada, porque é muito difícil para ele compreender o tratamento e aderir corretamente. Às vezes, até para relatar os sintomas, entender as instruções que estamos dando, contribuir com exames e terapias... Isso é uma das principais dificuldades que encontramos na prática clínica”, acrescenta a especialista.

Entre os efeitos colaterais da não identificação da demência, a especialista destaca hospitalizações mais longas, risco de quedas, infecções, desnutrição e outros quadros que poderiam ser evitados com o manejo adequado. Além disso, a polifarmácia — uso simultâneo de vários medicamentos — aumenta as chances de reações adversas.

“O paciente com demência tem um risco elevado devido à polifarmácia. Isso aumenta muito o risco de reações adversas, porque temos muitas interações medicamentosas e, muitas vezes, pela falta de percepção do paciente sobre o tratamento. Isso interfere diretamente no tratamento de uma condição aguda”, detalha a médica.

Sinais de alerta durante a internação
A médica orienta que há indícios claros que devem ser observados pela equipe hospitalar, mesmo sem diagnóstico prévio.

“Durante a internação do idoso, conseguimos observar alguns sinais que levantam a suspeita de comprometimento cognitivo. É um paciente muito repetitivo, que repete muitas falas. Ele tem dificuldade para relatar a própria história de forma coerente, com sequência de eventos. Quando perguntamos onde ele está, em que ano estamos, percebemos desorientação no tempo, no espaço ou em relação às pessoas ao redor. Além disso, há alterações comportamentais, como agitação, apatia ou desinibição. São pacientes que têm dificuldade para se alimentar, se vestir e realizar tarefas básicas. Ao notar esses sintomas, é importante realizar uma avaliação mais detalhada”, detalha Resplande.

A capacitação dos profissionais é um dos caminhos mais efetivos para mudar esse cenário. A neurologista defende a inclusão de protocolos de triagem cognitiva na admissão hospitalar, além de testes de rastreio de delírio, que frequentemente se confunde com quadros demenciais.

“Todos os profissionais que têm contato direto com o paciente — fisioterapeutas, fonoaudiólogos, equipe de enfermagem — precisam estar aptos a reconhecer os sinais precoces. É fundamental aplicar exames de triagem cognitiva, principalmente na admissão hospitalar. A integração entre neurologistas, geriatras e demais equipes também é essencial para buscarmos a melhor opção de tratamento”, recomenda Rafaella.

Diagnóstico precoce ainda é exceção
A especialista de Cuiabá lembra que muitos idosos chegam aos hospitais sem um diagnóstico formal de demência. Em muitos casos, as dificuldades cognitivas são interpretadas pela família como “parte do envelhecimento”, o que atrasa a identificação correta.

“O primeiro ponto é a falta de diagnóstico prévio. Muitas vezes, os familiares atribuem ao envelhecimento normal ou acabam compensando as dificuldades no início do quadro. Isso causa um atraso. O que vejo com frequência é que pacientes com comprometimento cognitivo prévio, quando são hospitalizados, passam por uma situação de muito estresse físico e emocional, e isso descompensa quadros que antes estavam estáveis. O ambiente hospitalar demanda mais do paciente em termos cognitivos e funcionais, o que facilita essa percepção”, comenta a neurologista.

Desafio crescente para o sistema de saúde
A tendência, segundo estimativas internacionais, é que os casos de demência aumentem nos próximos anos, impulsionados pelo envelhecimento populacional. A neurologista reforça que isso terá impacto direto sobre o sistema de saúde brasileiro, especialmente nas regiões com menor acesso à atenção básica.

“Tenho notado um aumento significativo nos casos de demência, e isso mostra o quanto o sistema de saúde brasileiro será impactado. É uma sobrecarga grande, com aumento das demandas por internações, cuidados prolongados e necessidade de reabilitação. Também há uma necessidade urgente de mais profissionais especializados e capacitados. E, por último, é fundamental apoiar a família. O paciente com demência não consegue, com o tempo, realizar atividades básicas sozinho, e muitas vezes um familiar, em idade produtiva, precisa deixar o trabalho para cuidar dele. Isso muda toda a dinâmica familiar”, finaliza ela.

Para lidar com esse cenário, os pesquisadores sugerem um método de triagem simples, de baixo custo e fácil aplicação: entrevistar um familiar ou cuidador próximo logo nos primeiros dias da internação, com o objetivo de avaliar como era o funcionamento cognitivo do paciente antes do quadro agudo.

A estratégia já foi testada em cinco hospitais públicos e privados de São Paulo, Belo Horizonte e Recife, alcançando mais de 90% de eficácia na identificação de casos de demência não diagnosticados. Com base nesses resultados positivos, o método será implementado em larga escala pela rede do grupo CHANGE (Creating a Hospital Assessment Network in Geriatrics), que atua em 43 hospitais no Brasil e está em processo de expansão para Angola, Chile, Colômbia e Portugal.
Fonte: Universidade de São Paulo (USP)
Autor: Marcelo Fin
Local: MT Saúde
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